“I’m losing my edge to the Internet seekers
who can tell me every member of every good group from 1962 to 1978.
I’m losing my edge.”
— LCD SOUNDSYSTEM
“Vruuuuummm, tóin, tóin, tóin, e já estávamos na flip, flip ,flip”
— RATA
De tão desconfortável que estava, meu véio amigo, véio Z, parecia peixe andando de bicicleta…. mal montado em seu motociclo… várias horas de viagem… e quando parava era uma fieira de lamentações das velhas costas do véio Z. É véio amigo véio, daqui a uns anos piora… ainda bem que não estávamos com intercomunicador…. imagina de cinco em cinco minutos a voz trêmula de dor do Z invade meus ouvidos: – Puta RATA, minhas costas… Cazzo, vamos parar… Vou vender essa porra, vou vender… espera chegar em São Paulo! Hahaha!
Sabe pato? aquele bicho que grasna, não nada direito, não anda direito, não voa direito? Depois do quinquagésimo rascunho, Deus pensou, num güento mais!!! O que vou fazer com o treco? Alguém disse: – Ah joga no lago para ver se bóia! Hahaha! Flip, flip, flip… Já falei para o valoroso amigo Z: Se fosse uma GS-1200…. aaaaahhhh a moto James Joyce, A Shakespeare do Dakar! A Guimarães Rosa sobre rodas, a Oswaldina de Andrade!
Maldade minha… a moto é bonita e tem estilo… Estilo viagem de 100 km. SENÃO AS COSTAS DO Z NÃO GÜENTA PÔ!
Aí, já preparava o espírito 10 quilômetros antes… Parada no posto, era certeza:
– Puta, Rata, vou vender a porra! Assim que chegar… se chegar! Ai cacete as costas… Onde é o banheiro?
Hahaha!
E voltava do mictório em <panic_mode>:
– ! Bora, bora, bora, tá frio porra, minhas costas dóem e tô de saco cheio de viajar na moto… Bora, bora! BORA, cazzo Rata. Vamo! vamo! parece boiola! Liga a moto!!!
Tava vendo a hora:
– 333-PORTO…. ring, ring, ring – Porto Seguro boa noite…
– Porra, vem buscar este troço e joga no Tietê, e aproveita e dá uma carona para mim… By the way, o caminhão de reboque tem banco acolchoado? Então deixa o cazzo da moto aqui mesmo e me leva para a FLIP porra!
Só para ter uma idéia, este filme eu fiz no posto da Carvalho Pinto! O Z resolveu esticar as costas e botar a moto para jambrar, fazer o que ela foi projetada para fazer, no majestoso edifício “Head Quarters” do Frango Assado, recém adquirido da BMW, próximo à Rodovia dos Tamoios.
É que não entrou no espírito da moto, deveria ter viajado deitado no banco, no melhor estilo “superman”, vruuuummmmm, descer a serra saltitando na roda traseira, toin! Toin! Toin! Toin! Saltado as cancelas do pedágio com um duplo carpado invertido e entrado no centro histórico de Paraty plantando bananeira no guidão. vruuuuummm!
Mas resistiu bravamente… entrou em <panic_mode> algumas vezes</panic_mode>, eu quase morri na serra por conta de uma curva mal planejada (P*** barbeiragem mesmo), e lá estávamos, o véio Z e o Véio Rata, na véia Paraty, sob o signo de Chris Pffeifer. Fantastique! Marvelous! biutiful!
Tudo ficou bão, mas bããão mesmo depois que largamos a moto no estacionamento do hotel e fomos para a região da FLIP, FLIP, FLIP.
Trilha sonora do surpreendente LCD Soundsystem, um dos nomes da viagem, sim foi o Z que me apresentou… Tudo a ver com minha condição de hacker antiquado, ou anti-nerd embolorado! Viva a geração W (dois Ys miopes, hehehe) e a descrença na vivacidade e esperteza dos Yzinhos tecnolóides aleijados cerebrais… mas isso é outro assunto para outra hora… Porque de agora em frente é FESTA Flipeira! Som na caixa simpatia:
Cada um vê ou escuta o que quer. Para mim FLIP é onomatopéia e pronto! E ponto! Antes mesmo de ser acrônimo… escuto com minha cabeça…flip, flip, flip, e vejo um maníaco por livros lambendo os dedos oligofrenicamente e folheando, folheando, flip, flip, flip… o maníaco da FLIP na lisérgica festa do The Copia. Foi o que vi, e conto aqui… Na penumbra de Bourbon Paraty Baker Streets, com várias tartarugas pré-históricas enterradas, eis que avistamos uma festa, yes, we like festa a fucking lot! e festa @ flip, é festa de intelectos e Xlóides (intelectualóides, mongolóides)… [ The kids are coming up from behind. ] Tudo muito maluco, interessante e cheio de gente bêbada discutindo livros que nunca leram, falando de pessoas que nunca conheceram.. e eu fazendo de conta que tudo entendia na melhor performance camaleão… [ But I was there ]. Como disse, era a festa da The Copia (http://thecopia.com)… Interessante conceito, mas um pouco pretencioso… o site claro… A festa? Ah, esta era bacaninha mesmo. “Fes-ta estranha com gen-te esquisi-ta”… muita gente… Depois de zanzar um pouco, Encontro uma poltrona, enfio o rabo nela e fico observando a movimentação… Z parecia pinto no lixo… Vai prá lá, vem pra cá… comenta, pede música que o DJ não conhece (LCD Soundsystem). [ I can hear the footsteps every night on the decks ]. Eu sentadinho, comportadinho em meu prosaico assento, e aí encosta um
Convidado anônimo flagrado na piscina da festa
louquinho do tipo Xlóide, olha para mim (fudeu)… abre um sorriso (fudeu meeesmo) e fala com bafo de manguaça:
– Lourenço! como vai você cara… tá elegante!
Eu olho para trás, mas era comigo mesmo… Nem cara de Lourenço tenho eu… mas não iria discutir com o amigon!
Eu:
– É cara! tá cheio!
Sei lá de onde tirei isso! Estava esperando ele se apresentar como Alberto Caieiro ou Ricardo Reis, mas foi mais básico, mais confuso:
– HÁ! Conheço tudo aqui…. Quer ver? – Puta merda, do que este cara está falando?
– Ééééééé’… – Respondo sem olhar na fuça do Sr. Quixote, procurando o meu amigo que havia sumido na multidão pela vigésima vez…
O Quixotão balbuciou outras coisas que não entendi, aí quando olhei pra ele de novo, o bicho estava conversando com outro Lourenço! Eita!
Cadê o Z pô? Está pedindo Gretchen para o DJ do outro lado da piscina… Putz, os caras estão tentando um shortcut para Fernando Pessoa, inspiração na marra! Miram em Cervantes e acertam Dom Quixote. Cazzo que festa legal! Sério, gostei mesmo…
tudo meio anos 70… e eu com um copo de água com gás na mão, para lá e para cá, atrás do Z….
Sei que de Xico Sá a Rata Lourenço Coelho, todos lá compareceram.
Depois de fotos mil, celebridades des-celebrizadas decidimos conversar com o JoãoPestana no hotel.
As Palestras que vi, posso resumir em poucas linhas… O Joe Sacco, não vi, mas queria ter visto! Cazzo, só falo para exorcizar a inveja de quem viu. Mas tirei foto! Foto ultrarealista e com efeitos bacaninhas pô! E de raiva, acabei comprando o livro dele no Submarino que estava mais barato do que na FLIP óóóóóbvio! O Palestina!
O James Elrroy, é loucão varridão, daqueles que, diferentemente deste que vos esscreve, produz empatia imediata.
Já entra no palco gritando e declamando um trecho do seu livro para a platéia… Se Beethoven fosse vivo, estaria amancebado com o carecão. Citou umas 342 vezes o surdinho. Ele não disse, mas quase disse que era a encarnação do Ludwig. Não tava nem aí para o Mediador, queria mesmo era se masturbar a som da 5a. Sinfonia! Hahaha! Deu vontade de ler “Dália Negra” e “Los Angeles Cidade Proibida”.
Já disse na edição passada e repito, os autores brasileiros são duca! O João Ubaldo é de uma simplicidade, uma autenticidade sensacional, falou do processo de escrever de conjurar a inspiração e deu banho! Putz, a prosa dele é poesia… belíssimo!
David Byrne, foi enganado! E o povo também. Ah foram! O turista acidental! Falaram que iria falar do livro dele “Diário de Bicicletas” em uma convenção de engenharia de tráfego, o público esperava um show do Talking Heads e a organização colocou uns caras chatos pra cacete que faziam monólogos sobre as próprias especialidades… Burocratas do CET no Jô Soares. hahaha! ou melhor… ZZZZZZZZZ… Mico Leão Sonolento…
Ano passado foi identico com os quadrinistas “cult”, autores de “Freak Brothers” – Gilbert Sheldon, e “Fritz the Cat” – Robert Crumb, que nem sabiam o que era direito a feira (perguntaram no palco para todo mundo, hahaha), encheram a cara, passearam em Paraty com as esposas e até hoje devem dar risada disso.
Sonolentos trechos para comprovar que eu apesar de meio ga-ga, ainda não sou tão ranzinza assim.
E foi tudo isso a FLIP 2011!
Refletindo um pouco, Flip não é para conhecer livros é para viver o ambiente! Ficar no mesmo domínio dos caras fodões! É culto de personalidade, sim! E daí! É tomar café de graça na tenda da Folha, é trupicar nas tartarugas do chão batido da anciã Paraty… É muito bom!
Lyrics, Sound & Vision da Festa Literária Internacional de Paraty
Até a Flip, Flip, Flip de 2012.
Orrevoar! E não esqueçam, “The kids are coming up from behind. But I was There”
Para quem está curioso de Whatta Hell é LCD Soundsystem, segue a letra completa de Losing My Edge
Yeah, I’m losing my edge.
I’m losing my edge.
The kids are coming up from behind.
I’m losing my edge.
I’m losing my edge to the kids from France and from London.
But I was there.
I was there in 1968.
I was there at the first Can show in Cologne.
I’m losing my edge.
I’m losing my edge to the kids whose footsteps I hear when they get on the decks.
I’m losing my edge to the Internet seekers who can tell me every member of every good group from 1962 to 1978.
I’m losing my edge.
To all the kids in Tokyo and Berlin.
I’m losing my edge to the art-school Brooklynites in little jackets and borrowed nostalgia for the unremembered eighties.
But I’m losing my edge.
I’m losing my edge, but I was there.
I was there.
But I was there.
I’m losing my edge.
I’m losing my edge.
I can hear the footsteps every night on the decks.
But I was there.
I was there in 1974 at the first Suicide practices in a loft in New York City.
I was working on the organ sounds with much patience.
I was there when Captain Beefheart started up his first band.
I told him, “Don’t do it that way. You’ll never make a dime.”
I was there.
I was the first guy playing Daft Punk to the rock kids.
I played it at CBGB’s.
Everybody thought I was crazy.
We all know.
I was there.
I was there.
I’ve never been wrong.
I used to work in the record store.
I had everything before anyone.
I was there in the Paradise Garage DJ booth with Larry Levan.
I was there in Jamaica during the great sound clashes.
I woke up naked on the beach in Ibiza in 1988.
But I’m losing my edge to better-looking people with better ideas and more talent.
And they’re actually really, really nice.
I’m losing my edge.
I heard you have a compilation of every good song ever done by anybody. Every great song by the Beach Boys. All the underground hits. All the Modern Lovers tracks. I heard you have a vinyl of every Niagra record on German import. I heard that you have a white label of every seminal Detroit techno hit – 1985, ’86, ’87. I heard that you have a CD compilation of every good ’60s cut and another box set from the ’70s.
I hear you’re buying a synthesizer and an arpeggiator and are throwing your computer out the window because you want to make something real. You want to make a Yaz record.
I hear that you and your band have sold your guitars and bought turntables.
I hear that you and your band have sold your turntables and bought guitars.
I hear everybody that you know is more relevant than everybody that I know.
But have you seen my records? This Heat, Pere Ubu, Outsiders, Nation of Ulysses, Mars, The Trojans, The Black Dice, Todd Terry, the Germs, Section 25, Althea and Donna, Sexual Harrassment, a-ha, Pere Ubu, Dorothy Ashby, PIL, the Fania All-Stars, the Bar-Kays, the Human League, the Normal, Lou Reed, Scott Walker, Monks, Niagra,
Joy Division, Lower 48, the Association, Sun Ra,
Scientists, Royal Trux, 10cc,
Eric B. and Rakim, Index, Basic Channel, Soulsonic Force (“just hit me”!), Juan Atkins, David Axelrod, Electric Prunes, Gil! Scott! Heron!, the Slits, Faust, Mantronix, Pharaoh Sanders and the Fire Engines, the Swans, the Soft Cell, the Sonics, the Sonics, the Sonics, the Sonics.
You don’t know what you really want. (x15)